Professor , arte educador e produtor cultural
. Estas são algumas das habilidades profissional de Ailson Leite , um
empreendedor negro de 36 anos, que saiu das ruas da Djalma Dutra (Sete Portas) aos
7 anos para morar com sua família em Pernambués. Estudante oriundo das escolas
públicas de Salvador , Ailson colocou
sua tese urbana em prática e saiu para os palcos do mundo com sua base filosófica
pautada na igualdade de direitos para jovens negros da capital baiana. Em um “
papo cabeça” divertido , o homem negro da comunidade aceitou contar para o
Central Black os seus desafios e planos para o futuro dentro e fora da capital
baiana.
Central Black (CB) : Quem é “ O Homem Negro”
?!
Ailson Leite (AL) : Fui uma criança negra criada por minha mãe e
por minha avó . Meu pai era motorista mais não foi tão presente em minha vida
como as figuras femininas da minha casa.
Tenho 36 anos , duas irmãs e estudei 1º Grau na Escola Estadual Ruy Barbosa (Nazaré) e o Ensino
Médio nos Colégios Severino Viera (Nazaré) e Azevedo Fernandes (Pelourinho). Me
formei em Filosofia na Faculdade Batista
Brasileira (FBB) e moro no Pernambués desde então.
CB : Por que o hip hop ?!
AL: Desde muito pequeno sempre ouvi muitos ritmos dentro de casa. Minha avó sempre lavava roupas no quintal e
cantava jongos, ladainhas. Minha mãe, tias e irmãs ouviam muito rádio FM e
tocava de tudo. Minha casa sempre foi muito musical (risos). A primeira vez que
me interessei pelo rap foi em 1994 quando ouvi a música Rap da Felicidade (Mc
Cidinho e Mc Doca). Os grupos de rap que sempre ouvi na adolescência foram Thaide e Dj Hum, Racionais MC’s, Sabotage,
RZO, MV Bill, Facção Central .Curto alguns grupos estrangeiros também mas
prefiro os brasileiros. Descobri-me poeta e compositor aos 12 anos, mas tinha vergonha
de mostrar meus textos. Aprendi a tocar violão sozinho. Tinha o sonho de ter
uma banda. Comecei a fazer rap em 2005. Tudo o que tenho e o que sou devo a
arte, em especial ao hip hop.
CB: Como o esporte entrou na sua
vida ?! É mais fácil mobilizar jovens assim?!
AL: Como toda criança eu adorava brincar na rua e minha mãe não gostava e sempre reclamava, pois sabia que a rua não
era um bom lugar para brincar, para evitar que ficasse na rua. Ela e meu pai resolveram me colocar para
fazer um esporte. Comecei no Kung –Fu mas fiquei só 6 meses. Migrei para o
karatê dos 13 aos 18 anos ,onde cheguei até a faixa preta. Depois tentei Ful-
Contact até chegar ao Boxe. O esporte me
ensino muito. Aprendi a superar as dificuldades que a minha vida impôs .Aprendi
a ter disciplina graças as artes marciais. Mobilizar os jovens através do
esporte é muito importante, pois nessa idade precisamos liberar as energias e aprender a resolver diversos
tipos de problemas .O esporte tem esse
poder. Seria muito bom se tivéssemos uma maior quantidade de projetos esportivos em nossas comunidades .Tiraria
muito jovem da rua.
CB: Como conheceu o Coletivo João
Ninguém ?!
AL: Comecei
como voluntário em 2006 no projeto de Redução de Danos do Centro de Apoio Psico
Social (CAPS ) em parceria com agentes de saúde do bairro de Pernambués. Eu dava
aula de pluralidade cultural para adolescentes de Saramandaia e Pernambués. Logo
depois idealizei o “ Coletivo João Ninguém”. Somos um grupo sem fins lucrativos que atua nas áreas de
Teatro , Oficinas de Hip hop e Audiovisual.Em
2008 criamos o Festival Hip Hop de Cajazeiras. Tivemos edições também em
2009 e 2010. Nosso o objetivo sempre foi
fomentar um movimento artístico
alternativo nas periferias de Salvador .Atualmente o coletivo atua em
Cajazeiras. Mantemos uma formação em
Artes Cênicas gratuita onde são ensinadas técnicas básicas de expressão
corporal e interpretação teatral. A procura pelo curso cresce a cada dia.
Por lá já passaram cerca de 300 jovens. As ações acontecem através de
encontros entre artistas de diversos seguimentos que dialogam,
dividem experiências, realizam eventos culturais, festivais,
intervenções, peças de teatro e curtas metragens.
CB: Como você constrói os seus projetos?!
AL: Os parceiros são os amigos, artistas e ativistas.As principais linhas de atuação
são teatro, dança, música e hip hop.
Estão envolvidas 14 pessoas em nossa equipe no total. A média de custo de cada projeto fica em torno de 10.000 a 50.000 e por isso o Coletivo se mantém
através de editais.
As
principais atividades realizadas pelo Coletivo são o Festival de Hip Hop de Cajazeiras
que aconteceu em três edições 2008, 2009 e 2010 num espaço com total liberdade
de expressão artística, poética e política . Aconteceram seminários, oficinas
com B.boys, grafiteiros, poetas e shows com grupos de rap. Em 2010 o coletivo
criou a peça teatral “A Historia de João Ninguém” um musical rap que mescla teatro, hip hop e cultura afro, inspirado em fatos reais e no
livro “Zumbi dos Palmares” do escritor Joel Rufino dos Santos. A peça faz um resgate da
cultura afro brasileira trazendo elementos como capoeira, candomblé e hip hop. O espetáculo
também participou
do Festival de Teatro Gente, 2010 e 2011 e do Festival de Teatro Amador da Bahia 2012.
O grupo também
produziu o Cd do Rapper O Homem Negro em 2012.Gravamos também quatro curta
metragens: Devir (festival de Cinema 5 Minutos 2013), Soma (Youtube 2013), O
Jovem Zumbi dos Palmares e Clementina de Jesus (Prêmio Curta Histórias 2014).Produzimos
também diversos vídeos clipes de
artistas do rap baiano que não podem pagar a produção de seus próprios vídeos.
O Coletivo de Artes João Ninguém circulou nos bairros
Plataforma, Uruguai e Cajazeiras na cidade de Salvador- BA com o projeto “Teatro
Para o Povo” .Realizamos dez apresentações do espetáculo “Soma-
O Mito da Caverna”. Além das apresentações teatrais o grupo realizou
intervenções musicais, oficinas de música, oficina de grafite e oficina de
teatro. O projeto foi contemplado no edital Calendário das Artes 2014
apoiado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretária de Cultura do
Estado da Bahia. O projeto foi realizado nos centros culturais de
Plataforma, Cajazeiras e Uruguai na cidade de Salvador- BA, entre dezembro
de 2014 a março de 2015.
CB: Me fale do Soma 2015
AL : Inspirado
na alegoria da caverna do filosofo grego Platão, é um espetáculo “Soma” é um
espetáculo multissensorial em que arte e filosofia dialogam com as paixões e os
questionamentos da subjetividade humana. O cenário é absurdamente caótico e
psicodélico. O texto é uma mistura de devaneio e insanidade. Questionamentos,
tortura psicológica e confusão. Os telefones celulares, a TV, a mídia de um
modo geral, o deslumbre pelo sucesso, a internet e outras questões
principalmente comportamentais são abordadas na peça. Os valores das “nossas
cavernas” que estão na sociedade, nos jovens, o que vemos e o que não queremos ver.
O sair dessa caverna, o despertar do homem. O espetáculo participou do Festival
de Teatro de Curitiba 2015 e a nossa participação repercutiu de tal forma que
foi vinculado nos principais veículos de comunicação e sites de noticias de
Curitiba e Salvador.
CB : Como as instituições podem convidar o Coletivo, o Soma ou o seu trabalho como gestor social ?!
AL:
É só entrar em contato comigo pelo e-mail: ohomennegro@hotmail.com ou pelo celular (71) 9299- 8862 . As
atividades aconteciam no Colégio Leonor Calmon em Cajazeiras . Por falta de
disponibilidade da direção do Colégio Leonor Calmom em deixar a chave das salas para as oficinas aos finais de semana encerramos a ação do grupo no local . Atualmente estamos
sem endereço físico. Por enquanto estamos no Barracão das Artes no bairro do Barbalho
todos os sábados das 09h às 13h. As aulas de teatro são gratuitas para jovens a
partir dos 15 anos. Para se inscrever é só ir ao local das atividades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário